Hoje, 29 de julho de 2025, completam-se 27 anos da privatização do Sistema Telebrás — ou, como preferimos dizer, da entrega de um setor estratégico ao capital privado, em nome de um projeto neoliberal que prometia eficiência, modernização e universalização. O que recebemos em troca foram demissões em massa, tarifas abusivas, concentração de mercado e o colapso da Oi.
A venda da Telebrás desmantelou uma das maiores empresas públicas do país, com know-how técnico e papel estratégico na soberania digital brasileira. Seu centro de pesquisa — o CPqD, que já chegou a exportar tecnologia para a China — foi reduzido a uma fundação privada sem relevância. O que era público, coletivo e estratégico virou nicho de lucro para acionistas e banqueiros.
A Oi é o símbolo mais claro do fracasso dessa privatização. Nas últimas duas décadas e meia, a empresa foi do ápice da promessa à beira da falência. Comprou a Brasil Telecom, em 2008, sem ter recursos para investir. Em 2010, apostou numa desastrosa parceria com a Portugal Telecom. Em 2015, ficou fora do leilão da frequência de 700 MHz por falta de dinheiro. Resultado: uma dívida de R$ 65 bilhões em 2016 e a primeira recuperação judicial. Em 2023, uma nova recuperação. Agora, em 2025, a Justiça já fala em falência definitiva.
Enquanto isso, o BTG Pactual foi tomando o controle da infraestrutura da Oi: fibra óptica, prédios, bens reversíveis. Um presente da privatização para os banqueiros. O mesmo se deu com a Oi Móvel, fatiada entre TIM, Claro e Vivo — ou seja, entregue a grupos estrangeiros: italianos, mexicanos e espanhóis.
A consequência? Não há concorrência real: 95,2% da telefonia móvel está nas mãos das três grandes operadoras, assim como a internet fixa e móvel. A qualidade dos serviços segue baixa, a cobertura universal nunca chegou, e o acesso às telecomunicações continua sendo inacessível para muitos brasileiros.
A falência da Oi é mais do que o fim de uma empresa. É o atestado de óbito da promessa de que a privatização traria progresso. O que houve foi um projeto de destruição planejada, um esquema de transferência de patrimônio público para interesses privados e estrangeiros. E os brasileiros, mais uma vez, pagam a conta.
Marcello Miranda – Especialista em Regulação de Telecomunicações