Racismo estrutural ainda mantém uma profunda desigualdade entre negros e brancos

Nesta sexta-feira, dia 20 de novembro, é celebrado o Dia da Consciência Negra. A data é um chamado a reflexão sobre o racismo estrutural que permanece no Brasil e que tem mantido um fosso de desigualdades entre brancos e negros.

Um racismo mantido e agravado pela naturalização de pensamentos e situações que promovem a discriminação, como a fala racista do candidato a vereador derrotado Walter Nalgestein sobre as quatro vereadoras e um vereador negro eleito para a Câmara de Vereadores de Porto Alegre, com um estrondoso número de votos. Uma considerável vitória, num país que carrega 300 anos de escravidão e onde os espaços políticos carecem da representação da população negra, mesmo que ela represente a esmagadora maioria da população.

O racismo é um dos fatores mais graves a atingir a sociedade, que impede milhões de brasileiros e brasileiras de ocupar espaços que lhe pertencem por direito. Uma prática enraizada na sociedade que marginaliza pessoas negras e impede que elas se constituam plenamente enquanto cidadãs e que se traduz em falas, pensamentos, ações que segregam duramente a população negra. Frases, piadas e “brincadeiras” associam negros a situações vexatórias, degradantes, apenas pela cor da pele. Em racismo que começa nas relações sociais, perpassa os espaços públicos e chega até uma total ausência de políticas públicas que possam melhorar a vida da população negra e que, no governo Bolsonaro, ainda destrói o que, com muita luta, se avançou na questão racial.

Os números atestam esta situação. No Brasil, pessoas negras são mortas com mais frequência que pessoas não negras: os negros representam 75% das vítimas de homicídio, segundo o Atlas da Violência de 2019. São maioria, também, em meio à camada mais pobre da população: dos 10% de brasileiros mais pobres, 75% são negros, segundo o IBGE.

A pandemia evidenciou ainda mais as desigualdades entre negros e brancos em diversas áreas, como atendimento na saúde e mercado de trabalho. Segundo estudo do DIEESE, homens e mulheres negros sentiram, com maior frequência, os danos do isolamento e da redução do nível de atividade econômica.

Desde que iniciou a pandemia, mais de 7, 4 milhões de homens e mulheres negros saíram da força de trabalho ou porque perderam ou porque deixaram de procurar emprego por acreditar não ser possível conseguir nova colocação. Entre os brancos, o número de pessoas nessa mesma situação chegou a 2,7 milhões. No total, 72% dos que perderam o emprego na pandemia eram negros ou negras.

Para o DIEESE, em situação vulnerável de renda, moradia, sem possibilidade de aderir ao isolamento, necessário para evitar a propagação do coronavírus, trabalhadores e trabalhadoras negras foram obrigados a continuar a busca por trabalho diante da necessidade de sobrevivência, em longos deslocamentos dentro de transportes públicos nas grandes cidades.

Tanto desalento teve uma reposta nas urnas, que se ainda é insuficiente, representa uma mudança importante. Na eleição do dia 15 de novembro, o Brasil teve um contingente maior de pessoas negras, homens e mulheres, participando da eleição e sendo eleitas para as Câmaras de Vereadores. No total, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), cerca de 1,7 mil candidatos a prefeitos se declararam pretos ou pardos, e se somado as candidaturas a vereança, este número chega a 276 mil candidatos pretos ou pardos (49,9% do total). Também foi a primeira disputa eleitoral em que os partidos tiveram que cumprir regras sobre os repasses de verbas do Fundo Eleitoral para os candidatos negros, com a destinação proporcional a esse grupo dos recursos de financiamento de campanha e do tempo de propaganda eleitoral gratuita na TV e no rádio.

Em lugares, como o Curitiba (PR), é a primeira vez que uma cadeira da Câmara de Vereadores terá uma deputada negra e em Goiás e Maranhão juntos, foram eleitos mais de 50 quilombolas. Certamente há razões para comemora, especialmente por trazer o debate do racismo para a seara pública, mas com a certeza de que há ainda um longo caminho a percorrer. Ou, como diz a cientista política Nailah Neves Veleci, “no país do mito da democracia racial, a discussão do racismo e da sub-representação durante uma eleição é sim avanço para ser comemorado”.

E neste dia 20 de novembro, é um bom momento para trazer à pauta esta discussão. O SINTTEL-RS reforça, neste dia, sua posição de combate a qualquer forma de discriminação e com a construção de uma sociedade onde a cor da pele não seja fator de exclusão dos espaços sociais.

A ORIGEM DA DATA

O 20 de novembro remete a data da morte de Zumbi dos Palmares, o então líder do Quilombo dos Palmares (situado entre os estados de Alagoas e Pernambuco, na Região Nordeste do Brasil), que lutou pela liberdade do povo negro contra a escravidão. Foi instituído oficialmente pela Lei nº 12.519, de 10 de novembro de 2011.

Assessoria de Comunicação

19/11/2020 21:28:25