Mulheres mostram coragem e resistência na Marcha das Margaridas

As mais de 100 mil mulheres que deram corpo à Marcha das Margaridas no dia 14,  trouxeram para Brasília mais que uma pauta de reivindicação estruturada. Diversas, elas se construíram como o auge da resistência e da coragem presentes em diversas outras manifestações que vêm confrontando as políticas cruéis do presidente Jair Bolsonaro para o povo brasileiro.

A Marcha das Margaridas realizada em Brasília se pulverizará, com realizações de atos nos estados e municípios. Como eixos políticos, a 6ª edição da Marcha das Margaridas trouxe a luta: 1. Por terra, água e ecologia; 2. Pela autodeterminação dos povos, com soberania alimentar energética; 3. Pela proteção e conservação da sociobiodiversidade e acesso aos bens comuns; 4. Por autonomia econômica, trabalho e renda.

Para a secretária de Mulheres Trabalhadoras da CUT Nacional, Junéia Batista, “é sempre pelas mulheres que as revoluções começam, historicamente é assim. E eu acho que a revolução brasileira contra esse governo que não está com o povo começa pelas mulheres rurais”, acredita.

Para a secretária de Formação da CUT Nacional, Rosane Bertotti, o percurso que leva às mudanças necessárias capazes de retirar o Brasil do caminho do retrocesso deve, necessariamente, ser pavimentado na formação política das mulheres, ação adotada desde o princípio pela Marcha das Margaridas.

Já a secretária de Mulheres da CUT Brasília, Sônia Queiroz, disse que é dever da classe trabalhadora seguir os passos das Margaridas. “A maioria dessas mulheres que estão aqui hoje enfrentaram dois, três, quatro dias de ônibus. Muitas delas chegaram a atravessar rios para poder pegar a estrada e vir para a capital do Brasil. É a maior demonstração de disposição de luta que podemos ter. Que nós, trabalhadoras e trabalhadores da cidade, possamos ter a mesma garra e a mesma esperança.”

Diferente das outras edições da Marcha das Margaridas, o governo federal não recebeu as mulheres do campo, da floresta e das águas, ou pelo menos acenou no sentido de conhecer suas pautas de luta. Nem mesmo no Twitter, principal meio pelo qual Bolsonaro faz seus discursos, o presidente sequer mencionou a ação, uma das maiores do mundo inteiro.

O percurso e as Margaridas

As Margaridas saíram às 7h do Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade e marcharam cerca de seis quilômetros até o Congresso Nacional, onde foi encerrada a manifestação com ato político. Durante todo percurso, elas entoaram gritos e cantos por soberania popular, democracia, justiça, igualdade e pelo fim da violência. Também fizeram coro contra o presidente Jair Bolsonaro e pela liberdade de Lula.

Dona Iolanda Toshie Ide, de Campinas (SP), ignorou as limitações impostas pela cadeira de rodas. Com 76 anos, a professora aposentada segurava uma bandeira da Marcha Mundial das Mulheres e seguia firme como as demais mulheres que estavam a sua volta. “A gente tem que resistir sempre. Nós não aceitamos esse governo como legítimo. E o que essa Marcha traz como diferente nesse ano é que não queremos diálogo com ele (o governo). Nós ficaremos na resistência, na oposição. As mulheres derrubarão o autoritarismo, o patriarcado e o racismo”, disse.

No meio da multidão, Ana Carolina, de apenas 15 anos, segurava uma placa com os dizeres “Lula livre”. Essa foi a primeira Marcha das Margaridas que ela participou, mas a jovem afirma que participará de todas as outras que estão por vir. “Estou gostando demais. Foi um sufoco pra chegar até aqui, mas estou gostando demais. Espero que com essa marcha a gente ganhe visibilidade e vença”, disse a estudante do 9º ano do ensino fundamental, vinda de Belém do Pará.

Já dona Marineide Alexandre Rodrigues, de 62 anos, encarou quatro dias de viagem para marchar. Ela, que é do Pernambuco, terra de Margarida Alves, disse estar preocupada com a aposentadoria. “Eu ainda não consegui me aposentar, e agora está aí, na mão dele (do presidente Bolsonaro). O que eu quero é que ele ponha a mão da consciência. O que ele quer fazer com essa reforma (da Previdência) prejudica todo mundo. E a gente está em guerra pelos nossos direitos e para ser feliz”, refletiu.

Vinda do outro extremo do país, a trabalhadora rural Sirlei Beatriz Couto, de São Sebastião do Caí (RS), acredita que a Marcha das Margaridas 2019 é a luta pela garantia do que foi conquistado desde 2000, quando foi realizada a 1ª Marcha. “Estamos aqui para continuar defendendo as mulheres e seus direitos. Essa marcha é específica porque o Brasil está defasado em relação às mulheres, estamos ficando de lado”, alerta.

A Marcha das Margaridas também abriu espaço para que outras feridas, causadas por construções estruturais reforçadas no governo Bolsonaro, fossem expostas. Rosivalda Cristina, de São José dos Campos (SP), utilizou a Marcha para denunciar a prisão do filho de 32 anos. “Hoje fazem dois anos que meu filho está preso, mesmo sendo inocente”, contou. Ela relata que o filho foi mais uma vítima do racismo, um dos preconceitos propagados sem pudor pelo presidente Jair Bolsonaro. “Ele (o filho) entrou em uma farmácia para comprar um remédio e foi acusado de algo que não fez. O racismo, o preconceito que prendeu ele. Meu filho é negro. E todo mundo fala isso: ele está lá por que é negro. E hoje eu trago essa dor de saber que não só meu filho está lá inocente, mas muita gente. Todos vítimas do racismo”, diz emocionada.

Depois da jornada de dois dias em Brasília, com diversas atividades de formação e cultural, as Margaridas retornarão a seus lares, nos mais diversos locais do Brasil. Diante de um dos cenários mais críticos já vividos pelos brasileiros, elas deixaram sua mensagem, incitaram resistência e coragem e, mais uma vez, fizeram história.

Assessoria de Comunicação

C/Informações da CUT Brasília

15/08/2019 11:00:46

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